
Mia Couto – Promessa de uma noite
16 de Abril, 2021
José Eduardo Agualusa – “O Vendedor de Passados”
16 de Abril, 2021Retrato do poeta quando jovem
Há na memória um rio onde navegam
Os barcos da infância, em arcadas
De ramos inquietos que despregam
Sobre as águas as folhas recurvadas.
Há um bater de remos compassado
No silêncio da lisa madrugada,
Ondas brancas se afastam para o lado
Com o rumor da seda amarrotada.
Há um nascer do sol no sítio exacto,
À hora que mais conta duma vida,
Um acordar dos olhos e do tacto,
Um ansiar de sede inextinguida.
Há um retrato de água e de quebranto
Que do fundo rompeu desta memória,
E tudo quanto é rio abre no canto
Que conta do retrato a velha história.
Retrato do poeta quando jovem de José Saramago in “Os poemas possíveis”
Os barcos da infância, em arcadas
De ramos inquietos que despregam
Sobre as águas as folhas recurvadas.
Há um bater de remos compassado
No silêncio da lisa madrugada,
Ondas brancas se afastam para o lado
Com o rumor da seda amarrotada.
Há um nascer do sol no sítio exacto,
À hora que mais conta duma vida,
Um acordar dos olhos e do tacto,
Um ansiar de sede inextinguida.
Há um retrato de água e de quebranto
Que do fundo rompeu desta memória,
E tudo quanto é rio abre no canto
Que conta do retrato a velha história.
Retrato do poeta quando jovem de José Saramago in “Os poemas possíveis”
José Saramago
[Azinhaga, Golegã, 1922 - Lanzarote, ilhas Canárias, 2010]

Prémio Nobel de Literatura 1998. Nascido no Ribatejo, mas desde muito novo a residir em Lisboa, José Saramago é um caso paradigmático de escritor autodidacta: com um curso em serralharia mecânica concluído em 1939, vai, ao longo dos anos, repartir a sua actividade profissional pela tradução, a direcção literária e de produção numa casa editora, colaborações várias em jornais e revistas (salientando-se a função de crítico literário que manteve na Seara Nova e o jornalismo propriamente dito, tendo orientado o «Suplemento Literário» do Diário de Lisboa e sido director-adjunto do Diário de Notícias, já no período pós-revolucionário de 1974-75).
Tendo embora iniciado a sua carreira nas letras em 1947, com o livro Terra do Pecado, é em 1980, com o romance Levantado do Chão, história da vida de uma família camponesa do Alentejo desde o início do século até à revolução de Abril e ao advento da reforma agrária, que José Saramago produz aquilo a que já se convencionou chamar o seu «primeiro grande romance». Primeiro porque a partir daí eles se têm sucedido regularmente como outros tantos «grandes romances», o maior dos quais, por ter constituído um autêntico «caso» de celebridade tanto nacional como internacional, com tradução para uma vintena de línguas e adaptação a libretto de ópera, foi sem dúvida Memorial do Convento (1982).
Fascinante relato da construção do convento de Mafra e do esforço dos homens que o construíram, Memorial do Convento trata também do sonho do «padre voador», Bartolomeu de Gusmão, e da construção da sua Passarola, que voará mercê das vontades dos homens que Blimunda, a que vê através dos corpos e da terra, irá, pacientemente, aprisionando num frasco. Tudo isto é servido por um estilo que passará a constituir forte marca do autor e que se define, basicamente, pela supressão de alguns sinais de pontuação, nomeadamente pontos finais e travessões para introduzir o diálogo entre as personagens, o que vai resultar num ritmo fluido, marcadamente oral e muito próprio, tanto da escrita como da narrativa.
Estas características irão, aliás, contribuir para transformar os seus livros em objecto de interesse para encenadores, músicos e realizadores de cinema: Memorial do Convento, de que o autor recusou autorizar uma adaptação cinematográfica, foi já adaptado a ópera pelo compositor italiano Azio Corghi, com o título «Blimunda». A estreia mundial, com encenação de Jérôme Savary, realizou-se no Teatro alla Scala, de Milão, em Maio de 1990. Também da peça In Nomine Dei foi extraído um libretto: o da ópera «Divara», estreada em Münster (Alemanha), em 31 de Outubro de 1993, com música de Azio Corghi e encenação de Dietrich Hilsdorf.
De romance histórico se tem inevitavelmente falado em relação à produção romanesca de Saramago, embora o próprio autor recuse tal etiqueta aplicada às suas obras. E se os romances de José Saramago estão definitivamente modelados numa dimensão histórica (quer os que remetem para o passado – a maioria – quer, por exemplo A Jangada de Pedra (1986), que surge como ficção de uma hipótese fantástica situada num futuro), não o estarão menos numa dimensão propriamente humana, naquilo em que a acção e reflexão dos homens, mesmo, ou principalmente, dos mais modestos no interior de cada época histórica, pode pesar para ocasionar desvios, ainda que ficcionais, da «verdade» que a História consignou. Na opinião de Maria Alzira Seixo, será precisamente «desta conjunção entre continuidade temporal e intervenção humana» que Saramago irá «extrair uma noção de alteridade que [...] é a proposta de diálogo entre todo o diverso, ou melhor, de conjunção acertada e dramática das várias condições que situam o homem no mundo, seu entrecruzar doce e fecundo, sua irreparável desarmonia que se deplora e compensa em literatura».
Se o romance de José Saramago é histórico, pela dimensão histórica, e fantástico, pela dimensão fantástica, ele é principalmente dos homens e das mulheres na história e da sua capacidade de ver e agir sobre o real para além do crível e do evidente. Parte da extraordinária receptividade que as suas obras têm merecido em todo o mundo, e que culminou com a atribuição do Nobel, dever-se-á, sem dúvida, a esse carácter humanista, a esse reduto de confiança e esperança no poder do humano que a sua obra projecta.
De facto, mesmo antes da consagração máxima trazida pelo Nobel, Saramago era já o autor português contemporâneo mais traduzido, com livros editados em todo o mundo, da América do Norte à China, e detinha já um capital de prestígio reconhecido pela atribuição de vários prémios literários internacionais e nacionais – de onde se destacam o Prémio Camões, em 1995 e os prémios Vida Literária, da Associação Portuguesa de Escritores (1993) e de Consagração de Carreira, da Sociedade Portuguesa de Autores (1995) –, doutoramentos honoris causa pelas Universidades de Turim (Itália), Manchester (Inglaterra), Sevilha, Toledo e Castilla-La Mancha (Espanha) e graus honoríficos, como o de Comendador da Ordem Militar de Santiago da Espada e Chevalier de l'Ordre des Arts e des Lettres (atribuído pelo governo francês). É, além disso, membro honoris causa do Conselho do Instituto de Filosofia do Direito e de Estudos Histórico-Políticos da Universidade de Pisa (Itália); membro da Academia Universal das Culturas (Paris); membro correspondente da Academia Argentina das Letras e membro do Parlamento Internacional de Escritores (Estrasburgo).
Parte do espólio de José Saramago encontra-se no Arquivo de Cultura Portuguesa Contemporânea da Biblioteca Nacional.
in Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. V, Lisboa, 1998
Tendo embora iniciado a sua carreira nas letras em 1947, com o livro Terra do Pecado, é em 1980, com o romance Levantado do Chão, história da vida de uma família camponesa do Alentejo desde o início do século até à revolução de Abril e ao advento da reforma agrária, que José Saramago produz aquilo a que já se convencionou chamar o seu «primeiro grande romance». Primeiro porque a partir daí eles se têm sucedido regularmente como outros tantos «grandes romances», o maior dos quais, por ter constituído um autêntico «caso» de celebridade tanto nacional como internacional, com tradução para uma vintena de línguas e adaptação a libretto de ópera, foi sem dúvida Memorial do Convento (1982).
Fascinante relato da construção do convento de Mafra e do esforço dos homens que o construíram, Memorial do Convento trata também do sonho do «padre voador», Bartolomeu de Gusmão, e da construção da sua Passarola, que voará mercê das vontades dos homens que Blimunda, a que vê através dos corpos e da terra, irá, pacientemente, aprisionando num frasco. Tudo isto é servido por um estilo que passará a constituir forte marca do autor e que se define, basicamente, pela supressão de alguns sinais de pontuação, nomeadamente pontos finais e travessões para introduzir o diálogo entre as personagens, o que vai resultar num ritmo fluido, marcadamente oral e muito próprio, tanto da escrita como da narrativa.
Estas características irão, aliás, contribuir para transformar os seus livros em objecto de interesse para encenadores, músicos e realizadores de cinema: Memorial do Convento, de que o autor recusou autorizar uma adaptação cinematográfica, foi já adaptado a ópera pelo compositor italiano Azio Corghi, com o título «Blimunda». A estreia mundial, com encenação de Jérôme Savary, realizou-se no Teatro alla Scala, de Milão, em Maio de 1990. Também da peça In Nomine Dei foi extraído um libretto: o da ópera «Divara», estreada em Münster (Alemanha), em 31 de Outubro de 1993, com música de Azio Corghi e encenação de Dietrich Hilsdorf.
De romance histórico se tem inevitavelmente falado em relação à produção romanesca de Saramago, embora o próprio autor recuse tal etiqueta aplicada às suas obras. E se os romances de José Saramago estão definitivamente modelados numa dimensão histórica (quer os que remetem para o passado – a maioria – quer, por exemplo A Jangada de Pedra (1986), que surge como ficção de uma hipótese fantástica situada num futuro), não o estarão menos numa dimensão propriamente humana, naquilo em que a acção e reflexão dos homens, mesmo, ou principalmente, dos mais modestos no interior de cada época histórica, pode pesar para ocasionar desvios, ainda que ficcionais, da «verdade» que a História consignou. Na opinião de Maria Alzira Seixo, será precisamente «desta conjunção entre continuidade temporal e intervenção humana» que Saramago irá «extrair uma noção de alteridade que [...] é a proposta de diálogo entre todo o diverso, ou melhor, de conjunção acertada e dramática das várias condições que situam o homem no mundo, seu entrecruzar doce e fecundo, sua irreparável desarmonia que se deplora e compensa em literatura».
Se o romance de José Saramago é histórico, pela dimensão histórica, e fantástico, pela dimensão fantástica, ele é principalmente dos homens e das mulheres na história e da sua capacidade de ver e agir sobre o real para além do crível e do evidente. Parte da extraordinária receptividade que as suas obras têm merecido em todo o mundo, e que culminou com a atribuição do Nobel, dever-se-á, sem dúvida, a esse carácter humanista, a esse reduto de confiança e esperança no poder do humano que a sua obra projecta.
De facto, mesmo antes da consagração máxima trazida pelo Nobel, Saramago era já o autor português contemporâneo mais traduzido, com livros editados em todo o mundo, da América do Norte à China, e detinha já um capital de prestígio reconhecido pela atribuição de vários prémios literários internacionais e nacionais – de onde se destacam o Prémio Camões, em 1995 e os prémios Vida Literária, da Associação Portuguesa de Escritores (1993) e de Consagração de Carreira, da Sociedade Portuguesa de Autores (1995) –, doutoramentos honoris causa pelas Universidades de Turim (Itália), Manchester (Inglaterra), Sevilha, Toledo e Castilla-La Mancha (Espanha) e graus honoríficos, como o de Comendador da Ordem Militar de Santiago da Espada e Chevalier de l'Ordre des Arts e des Lettres (atribuído pelo governo francês). É, além disso, membro honoris causa do Conselho do Instituto de Filosofia do Direito e de Estudos Histórico-Políticos da Universidade de Pisa (Itália); membro da Academia Universal das Culturas (Paris); membro correspondente da Academia Argentina das Letras e membro do Parlamento Internacional de Escritores (Estrasburgo).
Parte do espólio de José Saramago encontra-se no Arquivo de Cultura Portuguesa Contemporânea da Biblioteca Nacional.
in Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. V, Lisboa, 1998

Casais da Areia
Junto às várzeas do rio Arnóia, onde um centenário castanheiro é memória de muitas vivências, situa-se a pequena aldeia, onde o património religioso marca presença com a singular capelinha que honra a visita de Nª Sra. de Fátima e a Capela em Honra do padroeiro Mártir S. Sebastião.
A fonte da mina e as paisagens verdejantes embelezam este espaço repousante.
Esta aldeia faz parte da freguesia de A-dos-Negros e tem como principais monumentos a Igreja de São Sebastião e a Capela de Nossa Senhora de Fátima.
Pontos de interesse: http://www.freguesiaadosnegros.pt/Home
Igreja São Sebastião
Capela Nª Srª Fátima
Fonte da Mina
Largo do Castanheiro (árvore centenária)
Capela Stº António e Fonte Velha (nos Casais da Quinta do Carvalhedo)
Percursos Pedestres:
Rota das Várzeas – PR21 (em fase de preparação)
A fonte da mina e as paisagens verdejantes embelezam este espaço repousante.
Esta aldeia faz parte da freguesia de A-dos-Negros e tem como principais monumentos a Igreja de São Sebastião e a Capela de Nossa Senhora de Fátima.
Pontos de interesse: http://www.freguesiaadosnegros.pt/Home
Igreja São Sebastião
Capela Nª Srª Fátima
Fonte da Mina
Largo do Castanheiro (árvore centenária)
Capela Stº António e Fonte Velha (nos Casais da Quinta do Carvalhedo)
Percursos Pedestres:
Rota das Várzeas – PR21 (em fase de preparação)