
Nuno Júdice – Analogia aquática
16 de Abril, 2021
Mia Couto – Promessa de uma noite
16 de Abril, 2021Correspondência ao mar
Quando penso no mar
A linha do horizonte é um fio de asas
E o corpo das águas é luar,
De puro esforço, as velas são memória
E o porto e as casas
Uma ruga de areia transitória.
Sinto a terra na força dos meus pulsos:
O mais é mar, que o remo indica,
E o bombeado do céu cheio de astros avulsos.
Eu, ali, uma coisa imaginada
Que o Eterno pica,
Vou na onda, de tempo carregada,
E desenrolo…
Sou movimento e terra delineada,
Impulso e sal de pólo a pólo.
Quando penso no mar, o mar regressa
A certa forma que só teve em mim ‑
Que onde acaba, o coração começa.
Começa pelo aro das estrelas
A compasso retido em mente pura
E avivado nos vidros das janelas.
Começa pelo peito das baías
A rosar-se e crescer na madrugada
Que lhe passa ao de leve as orlas frias.
E, de assim começar, é abstrato e imenso:
Frio como a evidência ponderada.
Quente como uma lágrima num lenço.
Coração começado pelos peixes,
És o golfo de todo o esquecimento
Na minha lembrança que me deixes,
E a rosa dos Ventos baralhada:
Meu coração, lágrima inchada,
Mais de metade pensamento.
Correspondência ao mar de Vitorino Nemésio in “O Bicho Harmonioso”
A linha do horizonte é um fio de asas
E o corpo das águas é luar,
De puro esforço, as velas são memória
E o porto e as casas
Uma ruga de areia transitória.
Sinto a terra na força dos meus pulsos:
O mais é mar, que o remo indica,
E o bombeado do céu cheio de astros avulsos.
Eu, ali, uma coisa imaginada
Que o Eterno pica,
Vou na onda, de tempo carregada,
E desenrolo…
Sou movimento e terra delineada,
Impulso e sal de pólo a pólo.
Quando penso no mar, o mar regressa
A certa forma que só teve em mim ‑
Que onde acaba, o coração começa.
Começa pelo aro das estrelas
A compasso retido em mente pura
E avivado nos vidros das janelas.
Começa pelo peito das baías
A rosar-se e crescer na madrugada
Que lhe passa ao de leve as orlas frias.
E, de assim começar, é abstrato e imenso:
Frio como a evidência ponderada.
Quente como uma lágrima num lenço.
Coração começado pelos peixes,
És o golfo de todo o esquecimento
Na minha lembrança que me deixes,
E a rosa dos Ventos baralhada:
Meu coração, lágrima inchada,
Mais de metade pensamento.
Correspondência ao mar de Vitorino Nemésio in “O Bicho Harmonioso”
Vitorino Nemésio
[Praia da Vitória, Terceira, Açores, 1901 - Lisboa, 1978]

Homem de letras dos mais fecundos e originais, domina, com uma vasta obra de criação e de investigação, o campo da cultura e da literatura portuguesas do século XX.
Nos Açores, onde nasceu, fará estudos primários e secundários, colaborando, logo em 1915, no Eco Académico, onde trava conhecimento com Jaime Brasil, seu «mentor de iniciação literária e agnóstica». Nesses anos, dirige Estrela d'Alva, revista literária, e publica o seu primeiro livro, Canto Matinal, poesia, 1916. De mistura com alguma boémia, não é um aluno brilhante no liceu e, tendo-se incorporado no exército como voluntário, é nessa qualidade que, em Janeiro de 1919, visita pela primeira vez o Continente.
Em Lisboa, no início dos anos 20, trabalha como repórter em A Pátria, privando com jornalistas como Norberto Lopes e Artur Portela e com dirigentes anarco-sindicalistas da CGT. Por essa altura participa na fundação do jornal Última Hora. Em 1920, após publicar uma peça de teatro, Amor Nunca Mais, regressa aos Açores decidido a concluir o curso dos liceus. Em Julho de 1922, de novo no Continente, apresenta-se em Coimbra aos exames do então 7º. ano, matriculando-se de seguida na Faculdade de Direito. Emprega-se como revisor da Imprensa da Universidade, colabora em O Século e publica um novo livro de poesia, Nave Etérea (1922).
No ano seguinte, em que lhe morre o pai, é iniciado na Maçonaria, na loja Revolta, de Coimbra, com o nome simbólico de Manuel Bernardes. Dirige então os jornais republicanos Gente Nova e A Humanidade, este último fundado em 1912 por um grupo de lojas maçónicas, uma das quais a sua. Integra-se no Orfeão Académico de Coimbra, com o qual viaja por Espanha, oportunidade para conhecer Ortega y Gasset. Nas férias de 1924, tem Raul Brandão como companheiro na viagem para os Açores. Nesse mesmo ano, funda a revista Tríptico com Afonso Duarte, António de Sousa, Branquinho da Fonseca, Campos de Figueiredo e João Gaspar Simões.
Casa em 1926 e, tendo entretanto passado para a Faculdade de Letras, licencia-se em 1931 em Filologia Românica. Depois de reger a cadeira de Literatura Italiana na Universidade de Coimbra, como contratado, doutora-se ali em 1934 com a tese A Mocidade de Herculano até à Volta do Exílio.
Após o doutoramento, vai para França, como leitor de português na Universidade de Montpellier, e é então que tem oportunidade de conviver com intelectuais como o filólogo alemão Karl Vossler, Marcel Bataillon, Robert Ricard, Pierre Hourcade. Durante esta estada em Montpellier publica o livro de poemas La Voyelle Promise (1935) e profere algumas conferências, mais tarde reunidas no volume Études Portugaises (1938).
De regresso a Coimbra, funda com Alberto Serpa, em Outubro de 1937, a Revista de Portugal, «saída como tácita reacção ao proselitismo da Presença» (em 1930, Nemésio havia ali publicado alguns sonetos, mas manteve-se sempre alheio àquele movimento). Entre 1937 e 1939, lecciona na Universidade de Bruxelas e, em 1940, torna-se professor catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, de que chegaria a ser director, pronunciando ali a sua última lição em 1971. Entretanto, havia viajado a leccionar pelo Brasil, Espanha, França, Inglaterra, Alemanha, Holanda, Suiça e as então ainda colónias portuguesas de Angola e Moçambique.
Doutor honoris causa pelas Universidades de Montpellier (França) e do Ceará (Brasil), recebeu em 1966 o Prémio Nacional de Literatura e, em 1974, o Prémio Internacional Montaigne. Em 1963, torna-se sócio efectivo da Academia das Ciências de Lisboa.
Seduzida pelo rosto da Esfinge, toda a obra de Vitorino Nemésio (seja a de ficcionista e poeta, seja a de crítico, biógrafo ou historiador, ensaísta ou filólogo) se sujeita aos desafios do Mistério. Tenha-se em conta o entusiasmo com que o autor se lança no estudo de matérias como a microfísica e a biologia molecular, já para o fim da vida, revelador de um espírito em persistente vigília (ver: o livro de poemas Limite de Idade, 1972). Escolhe a via da dispersividade para com ele se defrontar (arma com que alguns o atacarão), mas que ele assume como método, não só por mais adequado ao seu espírito dialéctico, avesso a redutoras certezas, como o que melhor serve aos seus objectivos.
Na linha do pensamento contemporâneo, sabe que o Mistério é em si insondável e plural e que só há uma maneira de o falar, de o dizer: evocando, aludindo, metaforizando; numa palavra, exercitando um tipo de pensamento analógico. Por isso a linguagem é, na sua obra, a dimensão de que nenhum exegeta seu pode alhear-se. Vitorino Nemésio domina o verbo com segurança, espontaneidade e, por vezes, ousadia inexcedíveis, mas para fazer dele o centro de uma Obra. Aliás, é o próprio a confessar: «Sessenta anos de letras fizeram de mim uma espécie de corrente contínua da fala: – penso em acto» e, ainda, «desfaço-me em linguagem».
Como poeta, o seu talento daria, na opinião de David Mourão-Ferreira, para mais dois ou três «apontarem novas direcções e novos modos de ser moderno na poesia portuguesa». «Poeta extraviado» desde os tempos de Coimbra, isso significa, em termos de obra produzida, pelo menos duas coisas: independência relativamente a escolas e doutrinas (quer dizer, fuga à tradição da nossa poesia, ao pendor narrativo, confessionalista, dramático) e feixe de novas encruzilhadas a apontar outros caminhos: adesão ao símbolo e à imagem (imagismo), às buscas formais (experimentalismo dos anos 60), aos efeitos de surpresa (non sense e insólito) e de ironia (estética surrealista), retorno às raízes populares (ritmo de Romanceiro, quadras e léxico). Em tudo isto, nada de clássico, a não ser nas motivações que se adivinham por debaixo de uma temática centrada na «busca do sentido da existência» (infância, isolamento do eu, procura de Deus, o Destino), formas de existência diversamente abordadas em alguns dos seus livros (1938-1959), motivações ainda clássicas pelo sentido romântico de uma apetência para o diálogo que delas se desprende.
No panorama do romance português, Mau Tempo no Canal (1944) ocupa um lugar de relevo como romance-tragédia que retrata os conflitos de uma sociedade patriarcal do primeiro quartel do século, integrada na asfixiante realidade insulana. Para além do encontro da realidade física (os Açores) com a psicológica (encarnada em duas famílias rivais que, por razões económicas, se digladiam), o interesse deste romance está também no encontro da dimensão realista da escrita com a simbólica. Mas a sua obra de ficcionista não se fica por este romance, considerado um dos mais importantes da literatura portuguesa do século XX, pois outras obras, anteriores e posteriores, haviam afirmado Nemésio como prosador pelo menos tão excepcional como o foi poeta.
in Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. IV, Lisboa, 1997
Nos Açores, onde nasceu, fará estudos primários e secundários, colaborando, logo em 1915, no Eco Académico, onde trava conhecimento com Jaime Brasil, seu «mentor de iniciação literária e agnóstica». Nesses anos, dirige Estrela d'Alva, revista literária, e publica o seu primeiro livro, Canto Matinal, poesia, 1916. De mistura com alguma boémia, não é um aluno brilhante no liceu e, tendo-se incorporado no exército como voluntário, é nessa qualidade que, em Janeiro de 1919, visita pela primeira vez o Continente.
Em Lisboa, no início dos anos 20, trabalha como repórter em A Pátria, privando com jornalistas como Norberto Lopes e Artur Portela e com dirigentes anarco-sindicalistas da CGT. Por essa altura participa na fundação do jornal Última Hora. Em 1920, após publicar uma peça de teatro, Amor Nunca Mais, regressa aos Açores decidido a concluir o curso dos liceus. Em Julho de 1922, de novo no Continente, apresenta-se em Coimbra aos exames do então 7º. ano, matriculando-se de seguida na Faculdade de Direito. Emprega-se como revisor da Imprensa da Universidade, colabora em O Século e publica um novo livro de poesia, Nave Etérea (1922).
No ano seguinte, em que lhe morre o pai, é iniciado na Maçonaria, na loja Revolta, de Coimbra, com o nome simbólico de Manuel Bernardes. Dirige então os jornais republicanos Gente Nova e A Humanidade, este último fundado em 1912 por um grupo de lojas maçónicas, uma das quais a sua. Integra-se no Orfeão Académico de Coimbra, com o qual viaja por Espanha, oportunidade para conhecer Ortega y Gasset. Nas férias de 1924, tem Raul Brandão como companheiro na viagem para os Açores. Nesse mesmo ano, funda a revista Tríptico com Afonso Duarte, António de Sousa, Branquinho da Fonseca, Campos de Figueiredo e João Gaspar Simões.
Casa em 1926 e, tendo entretanto passado para a Faculdade de Letras, licencia-se em 1931 em Filologia Românica. Depois de reger a cadeira de Literatura Italiana na Universidade de Coimbra, como contratado, doutora-se ali em 1934 com a tese A Mocidade de Herculano até à Volta do Exílio.
Após o doutoramento, vai para França, como leitor de português na Universidade de Montpellier, e é então que tem oportunidade de conviver com intelectuais como o filólogo alemão Karl Vossler, Marcel Bataillon, Robert Ricard, Pierre Hourcade. Durante esta estada em Montpellier publica o livro de poemas La Voyelle Promise (1935) e profere algumas conferências, mais tarde reunidas no volume Études Portugaises (1938).
De regresso a Coimbra, funda com Alberto Serpa, em Outubro de 1937, a Revista de Portugal, «saída como tácita reacção ao proselitismo da Presença» (em 1930, Nemésio havia ali publicado alguns sonetos, mas manteve-se sempre alheio àquele movimento). Entre 1937 e 1939, lecciona na Universidade de Bruxelas e, em 1940, torna-se professor catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, de que chegaria a ser director, pronunciando ali a sua última lição em 1971. Entretanto, havia viajado a leccionar pelo Brasil, Espanha, França, Inglaterra, Alemanha, Holanda, Suiça e as então ainda colónias portuguesas de Angola e Moçambique.
Doutor honoris causa pelas Universidades de Montpellier (França) e do Ceará (Brasil), recebeu em 1966 o Prémio Nacional de Literatura e, em 1974, o Prémio Internacional Montaigne. Em 1963, torna-se sócio efectivo da Academia das Ciências de Lisboa.
Seduzida pelo rosto da Esfinge, toda a obra de Vitorino Nemésio (seja a de ficcionista e poeta, seja a de crítico, biógrafo ou historiador, ensaísta ou filólogo) se sujeita aos desafios do Mistério. Tenha-se em conta o entusiasmo com que o autor se lança no estudo de matérias como a microfísica e a biologia molecular, já para o fim da vida, revelador de um espírito em persistente vigília (ver: o livro de poemas Limite de Idade, 1972). Escolhe a via da dispersividade para com ele se defrontar (arma com que alguns o atacarão), mas que ele assume como método, não só por mais adequado ao seu espírito dialéctico, avesso a redutoras certezas, como o que melhor serve aos seus objectivos.
Na linha do pensamento contemporâneo, sabe que o Mistério é em si insondável e plural e que só há uma maneira de o falar, de o dizer: evocando, aludindo, metaforizando; numa palavra, exercitando um tipo de pensamento analógico. Por isso a linguagem é, na sua obra, a dimensão de que nenhum exegeta seu pode alhear-se. Vitorino Nemésio domina o verbo com segurança, espontaneidade e, por vezes, ousadia inexcedíveis, mas para fazer dele o centro de uma Obra. Aliás, é o próprio a confessar: «Sessenta anos de letras fizeram de mim uma espécie de corrente contínua da fala: – penso em acto» e, ainda, «desfaço-me em linguagem».
Como poeta, o seu talento daria, na opinião de David Mourão-Ferreira, para mais dois ou três «apontarem novas direcções e novos modos de ser moderno na poesia portuguesa». «Poeta extraviado» desde os tempos de Coimbra, isso significa, em termos de obra produzida, pelo menos duas coisas: independência relativamente a escolas e doutrinas (quer dizer, fuga à tradição da nossa poesia, ao pendor narrativo, confessionalista, dramático) e feixe de novas encruzilhadas a apontar outros caminhos: adesão ao símbolo e à imagem (imagismo), às buscas formais (experimentalismo dos anos 60), aos efeitos de surpresa (non sense e insólito) e de ironia (estética surrealista), retorno às raízes populares (ritmo de Romanceiro, quadras e léxico). Em tudo isto, nada de clássico, a não ser nas motivações que se adivinham por debaixo de uma temática centrada na «busca do sentido da existência» (infância, isolamento do eu, procura de Deus, o Destino), formas de existência diversamente abordadas em alguns dos seus livros (1938-1959), motivações ainda clássicas pelo sentido romântico de uma apetência para o diálogo que delas se desprende.
No panorama do romance português, Mau Tempo no Canal (1944) ocupa um lugar de relevo como romance-tragédia que retrata os conflitos de uma sociedade patriarcal do primeiro quartel do século, integrada na asfixiante realidade insulana. Para além do encontro da realidade física (os Açores) com a psicológica (encarnada em duas famílias rivais que, por razões económicas, se digladiam), o interesse deste romance está também no encontro da dimensão realista da escrita com a simbólica. Mas a sua obra de ficcionista não se fica por este romance, considerado um dos mais importantes da literatura portuguesa do século XX, pois outras obras, anteriores e posteriores, haviam afirmado Nemésio como prosador pelo menos tão excepcional como o foi poeta.
in Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. IV, Lisboa, 1997

Bairro Srª da Luz
Localizada a oriente da Lagoa, numa das estradas de ligação entre Óbidos e Caldas da Rainha, a aldeia do Bairro Nossa Senhora da Luz, tem existência documentada desde a época medieval.
Possui uma capela, de evocação a Nossa Senhora da Luz e que terá sido construída nos inícios do século XVIII, para responder às necessidades religiosas da população.
A atividade principal desta aldeia foi sempre a agricultura praticada em terrenos próximos da localidade (com a produção de cereais, vinho, azeite, legumes e alguma fruta).
No que diz respeito ao associativismo o Sport Clube do Bairro tem desenvolvido uma importante atividade desportiva e recreativa.
Pontos de interesse: https://www.jfsmariapedrosobral.pt/
Capela Srª da Luz
Zona lazer
Pista de radiomodelismo
Capela Nª Srº da Conceição (Trás do Outeiro)
Percursos Pedestres:
Circuito do Parque Tecnológico – PR20 (em fase de preparação)
Possui uma capela, de evocação a Nossa Senhora da Luz e que terá sido construída nos inícios do século XVIII, para responder às necessidades religiosas da população.
A atividade principal desta aldeia foi sempre a agricultura praticada em terrenos próximos da localidade (com a produção de cereais, vinho, azeite, legumes e alguma fruta).
No que diz respeito ao associativismo o Sport Clube do Bairro tem desenvolvido uma importante atividade desportiva e recreativa.
Pontos de interesse: https://www.jfsmariapedrosobral.pt/
Capela Srª da Luz
Zona lazer
Pista de radiomodelismo
Capela Nª Srº da Conceição (Trás do Outeiro)
Percursos Pedestres:
Circuito do Parque Tecnológico – PR20 (em fase de preparação)