
D. PEDRO LOPEZ DE AYALA
2 de Maio, 2023
PADRE ANTÓNIO JOSÉ DE ALMEIDA
2 de Maio, 2023D. JOÃO DE NORONHA, O NOVO
POEMA
Danrrique da mota a dom Joam de norōha, & a dom Ssancho seu yrmão por que se forã cõfessar a Ssam Bernaldĩ na metade do verão leuando comssyguo o vygayro Douidos, que he muyto gordo, & vieram jãtar a hũ luguar que chamam os Gyraldos, & nom acharam vynho pera beber.
No verão hyr confessar,
na força dos dias grandes,
nam a hy bancos de Frandes
pera tanto arreçear.
O frade muy de vaguar
assentado a seu prazer
a çegua rregua a cantar,
em tam estar, & ssuar:
ysto he mais que morrer.
Por tanto foy ordenado
o confessar no inuerno,
por quo mor mal do jnferno
he sser muyto emcalmado.
Ante sser escomungado
que hyr confessar por calma,
que açaz he gram pecado
ser o corpo mal tratado
com pouco proueito dalma.
Ora ponhamos que jaa
seja feyta confissam
com muy grande contriçam,
como creo que sseraa.
Vejamos quem poderaa
comprir aguora pendença,
a qual he cousa tam maa,
que, se nalma vida daa,
no corpo causa doença.
He hũa cousa muy ssaã
pera os corrutos aares
nos dias caniculares
o beber pela menhaã
a Touguya ou Lourinhaã.
Quem nam tiuer Caparica
ssobre pera ou maçaã,
& o al he cousa vaã:
em ssaluo esta quem rrepica.
E sse disser o contrayro
esse frade por ventura,
dizeylhe cassy sse cura
o padre do campanayro.
Por que tem hum bibyayro
em que rreza ssem periguo
muyto mays q no rrosayro:
nam diguays quee o viguairo,
por queu, senhor, nã no diguo.
Nem eu çerto nam diria
do senhor viguayro nada
nem da ssua imbiguada,
por que mescomunguaria.
Mas porem eu juraria
na ssaya de Ssam Bernaldo
que ja ele rrezaria
hum rresponsso que dizia
libera me do Giraldo.
In die illa tremenda,
quando for o çeo mouido,
& o vinho faleçido,
que nam achem quẽ no vẽda,
nem fiado nem aa tenda.
Nẽ per força nẽ per rroguo,
domine michi defenda
de tam aspera emmenda,
ante me julgue per foguo.
Açaz gram pendença era
a que fez vossa merçe,
querer beber ssem ter que:
Oo que pendença tam fera.
sempre ouuy que nesta era
he periguo ter barrigua,
& eu vy na prima vera,
& no curso da espera
cauyẽs de ter fadigua.
Vierom do oriente
tres rreys magos q ssabeys,
& vos fostes todos tres
muyto guordos em ponente.
O frade, muyto contente
na ssua çela muy fria,
& vos per calma muy quente,
eu mespanto çertamente,
ssayrdes daquele dia
Fym.
Ora ja v' confessastes,
goarday y' de jejuũar,
caçaz v' deue abastar
o ssuor que laa ssuastes.
Por que doulhe que cõtastes
mays pecados do q eram,
eu mafirmo que paguastes
nafronta que la passastes
a pendença que v' deram.
ANRRIQUE DA MOTA
in Garcia de Resende, Cancioneiro Geral
D. João de Noronha era um dos três filhos de D. João de Noronha, o Velho, e de D. Filipa de Castro.
Nasceu por volta de 1440, possivelmente em Óbidos.
Casou com D. Isabel de Sousa, sem descendência. Sucedeu a seu pai como alcaide-mor de Óbidos. Ficou ligado à construção do paço dos Alcaides no interior do castelo de Óbidos, durante o primeiro quartel do séc. XVI; sobre a porta principal do paço, encontra-se ainda hoje um conjunto heráldico composto por armas reais, esferas armilares e armas dos Noronhas. Faleceu em 1525, estando sepultado (conjuntamente com a esposa) num magnífico túmulo na Igreja de Santa Maria.