
LUÍS DE CAMÕES
2 de Maio, 2023
ANTÓNIO DA SILVEIRA MALHÃO
2 de Maio, 2023PADRE JOSÉ NUNES TAVARES
POEMA
Óbidos, pátria minha, antiga, enamorada,
de guerreiros leais e príncipes gentis
quero pôr-te bem alto, erguida e sublimada,
nas cordas desta lira em vibrações febris
Antiga, muito nobre e sempre leal vila,
um pomo de beleza em salva prateada,
a urna da tua glória eu quero hoje abri-la
para aqueles de quem tu és a ignorada.
Como princesa linda em seus muros cativa,
recebes o frescor das brizas do alto mar;
e quando a aurora, rindo, as dobras da luz viva
do tálamo descerra, o sol te vem beijar
Recortada com graça em tua encosta abrupta,
tua muralha adusta ostenta-se de pé,
teu castelo recorda eras de antiga luta,
e os santuários teus, dias de santa fé.
Desdobram-se a teus pés tapetes de verdura;
os pomares em flor perfumam teu ambiente,
és mimoso jardim de graça, de frescura,
e saudável repouso a quem seus males sente.
Terra de luz e amor, de sonho e de poesia,
és a bela visão da era medieval.
As ruínas de tão doce melancolia
e a história te guardou memórias sem igual.
Berço de geração ilustre e celebrada,
foste amada por reis, princesas, cavaleiros,
Afiaram aqui guerreiros sua espada
e a arte te deveu cultores verdadeiros.
Qual jóia de valor, na coroa refulgiste
d’El-Rei conquistador, que aos mouros te roubou.
De D. Sancho II, o título adquiriste
só teu: «Sempre leal». Assim El-Rei te amou.
Afagaram-te outrora uma Rainha Santa
e as piedosas mãos de D. Leonor
Dos altos torreões (oh quanta vez! oh! quanta!)
princesas com saudade, olharam o sol pôr.
João d’Ornelas, o monge, e o grão Paulo de Seixas
à Índia Embaixador, são teus, a história o diz,
e tiveste por glória e a glória a ninguém deixas
na ala de Aljubarrota o moço Antão Moniz.
Na ciência também do números tiveste
em Coimbra o reitor Coelho do Amaral
e mais tarde a Saldanha, um braço heróico deste
no Coronel Pacheco, ardente liberal.
Tu emprestaste a cor nas artes da pintura
a hábil, delicada e feminina mão;
à poesia e aos sons deste harmonia pura;
sagraste d’orador a fronte de Malhão.
A espada e o burel, a mitra e o capêlo,
a pena e o pincel, a oratória e a lira,
encontraram em ti homens que são modelo
e cujo nome e vida a tradição admira.
Uma coroa de glória à coroa de beleza
uniste, projectando os mais intensos brilhos.
A História fez-te grande e linda a natureza,
para seres o amor e orgulho dos teus filhos.
Ressurge, nobre Vila; acorda do teu sono,
Faz ouvir a tua voz por todo o Portugal.
Se alguém te visitar, jamais ao abandono
votará teu jardim de encanto perenal.
in Joaquim da Silveira Botelho, Óbidos. Vila Museu
José Nunes Tavares e Maria Adelaide Pinto Ferreira foram os pais de José Nunes Ferreira Tavares, que nasceu em Óbidos no ano de 1878.
José perdeu a sua mãe com seis anos de idade, pelo que foi viver para a casa de familiares em Vila de Rei. A princípio, estudou com uma tia paterna, professora de instrução primária. Mais tarde, estudou no Seminário Patriarcal de Santarém, onde concluiu o curso de Teologia. Foi ordenado presbítero em 1901, sendo pouco depois nomeado pároco do Vimeiro e em 1906 nomeado pároco de Atouguia da Baleia. Sobreviveu a uma tentativa de assassinato em 1911. Faleceu na Atouguia da Baleia em 1923, por motivo de doença.
Para além de pregador, evidenciou-se como colaborador em vários jornais, nos quais publicava os seus poemas.