
DR. JOÃO MONTEIRO MALHÃO
2 de Maio, 2023
D. PEDRO LOPEZ DE AYALA
2 de Maio, 2023JOAQUIM MARIA DA SILVA FREIRE (JR.)
POEMA
(José Ramalho, actor)
Ser amigo de Baco é desprezo?
Coisas dessas não digas a ninguém!
O beber a ninguém é defeso,
Sou amigo de Baco também.
Bebe o rei, o fidalgo, o janota,
Bebe o rico e o pobre, se o tem,
Todos bebem do vinho uma gota,
Pois que o vinho a qualquer sabe bem.
Damas há, que eu conheço de perto,
Muito amigas de pinga também.
Só o amigo, com fumos de esperto,
Quer a pinga tratar com desdém!
Quer, meu Freire, um conselho saudável?
Um parecer do que mais lhe convém?
Vá bebendo o licor estimável,
Seja amigo de Baco também.
in Luís Tudella, Joaquim Maria da Silva Freire. O Último Morgado de Óbidos
SONETO DEDICADO A UMA CREATURA DE QUEM ERA INIMIGO POLÍTICO IRRECONCILIÁVEL
No lodo do desprezo e da torpeza,
Pelo mundo esquecido e deslustrado,
Um certo homem vivia abandonado,
Sem carácter, sem honra, e sem firmeza.
Antigo defensor da realeza,
Mas aparente prejuro e malvado,
Pela sorte depois acabrunhado,
Longo tempo encobriu a natureza.
Porém, mudada um dia a situação
Que dos povos permitia a liberdade,
Do caos foi tirado esse vilão,
E para açoute da mísera humanidade
Que aflita ainda gemia em confusão,
O acaso o constitui autoridade!
in Luís Tudella, Joaquim Maria da Silva Freire. O Último Morgado de Óbidos
POESIA “O AMOR DA PÁTRIA”
(PARA SE RECITAR NO THEATRO D'ÓBIDOS)
(José Ramalho, actor)
I
Da Pátria o mais sincero adorador,
D'Obidense me apraz o nome honrado!
Fiel sempre serei! que a ley do fado
Me obriga a tributar-lhe um grande amor!
II
Neste dia de brilho, d’esplendor
Meu coração oculta alvoraçado!
Quisera dar-lhe um nome sublimado,
E a sorte não protege o meu ardor!
III
Mas se uma atroz, e ímpia desventura
Arrastal-a quer para o fundo abismo,
Reagir-he devemos com bravura
Renasça em nossos peitos o heroísmo!
Cresça em nós o amor à litteratura!
Resurja o mérito e o Patriotismo!
IV
A nossa terra amar com grande extremo,
Ennobrecêl-a com briosos feitos,
Fazêl-a respeitar ao mundo inteiro,
Hé dever a que nós somos subjeitos.
V
Se avultadas riquezas já não temos,
Se lusidos brasões não possuímos,
As artes, as sciencias cultivemos,
Em provas de que em oiro não dormimos!
VI
A Vós pois, ó laborosas classes,
Pertence, com vosso incansável braço,
A Pátria auxiliar, que jaz oppressa,
E que de vós a cada passo!
VII
A Vós, Caracteres assas distintos,
Cujo elevada posição respeito,
Cumpre o Obidense nome eternizar,
Ganhando-lhe mais fama e mór conceito!
VIII
A Vós, Damas gentis, sexo elegante,
Pelos dons, e p'las graças respeitável,
A vós só cabe a Pátria embelezar,
Tornal-a mais querida e mais amável!
IX
A Vós, ó Joventude estudiosa,
Que no Palco com esmero praticais,
Vinde dar complemento ao regosijio,
Que aos Obidenses inspirais!
in Luís Tudella, Joaquim Maria da Silva Freire. O Último Morgado de Óbidos
Joaquim Maria da Silva Freire e Leocádia Teresa da Silva Leitão tiveram 2 filhos, entre os quais se salienta Joaquim Maria da Silva Freire (Jr.), que nasceu em Óbidos no ano de 1824.
Casou com Isabel Narcisa da Costa Pereira, com quem teve 6 filhos. Foi advogado provisional e administrador do morgadio. Envolveu-se na política local, tendo exercido por diversas vezes o cargo de Vereador da Câmara, de Presidente da Câmara e de Administrador do Concelho de Óbidos. Faleceu na sua casa em 1886.
Dinamizou as artes e as letras em Óbidos. Dedicou-se à poesia, mas apenas deixou obras avulsas que oferecia às pessoas mais próximas.