La Serva Padrona 2023
1 de Agosto, 2024Double-Bill: A Voz Humana e La Serva Padrona 2023
1 de Agosto, 2024A Voz Humana
Libreto de Jean Cocteau
Récitas
9 de setembro · 21h00
Ficha artística
Jorge Balça, encenação
Rodrigo Teixeira, correpetição
Nuno Esteves (Blue), adereços
Marília Zangrandi, figurino
Zeca Iglésias, operação de luz
Ana Paula Menezes, direção de cena
Elenco
Elle — Marília Zangrandi, soprano
Rodrigo Teixeira, piano
Sinopse
A Voz Humana é uma ópera num único acto de Francis Poulenc, inspirada na peça homónima de Jean Cocteau. O enredo foca-se numa mulher, apenas referida como "Ela", que tem uma conversa final, através do telefone, com o seu amante que decidiu deixá-la. Este monólogo dramático está carregado de emoções, desde o desespero ao amor, da angústia à raiva, com a mulher a oscilar entre tentativas de compreensão, súplicas e resignação. A obra dá-nos uma visão profunda sobre a dor do amor não correspondido e a solidão humana.
A Voz Humana destaca o poder da expressão feminina e a intensidade da emoção. A obra desafia estereótipos ao permitir que uma mulher ocupe todo o espaço cénico e vocal, dominando a narrativa. Em vez de ser apenas uma figura secundária ou objecto de desejo, "Ela" é o foco central, retratando as suas lutas internas, força e vulnerabilidade. Esta ópera representa um raro momento na história da música clássica em que a voz e a emoção da mulher estão absolutamente no centro.
Jean Cocteau, o dramaturgo original, era conhecido pelas suas obras profundamente pessoais e introspectivas. Em A Voz Humana, explora a natureza da comunicação humana e a distância emocional, temas frequentes na sua própria vida. A peça, escrita em 1930, foi influenciada pela inovação tecnológica do telefone que, ao mesmo tempo que conectava as pessoas, também acentuava o abismo da comunicação não presencial, o que torna esta obra absolutamente visionária se pensarmos nos dias de hoje.
Francis Poulenc, por sua vez, sentiu-se profundamente atraído pela peça de Cocteau. Ambos, Cocteau e Poulenc, partilhavam uma profunda amizade e afinidade artística. Poulenc, conhecido pelas suas emoções conflituosas e turbilhão interno, viu na peça uma oportunidade de expressar a sua própria sensação de isolamento e desejo de conexão. A sua adaptação musical, estreada em 1959, é intensamente pessoal e lírica, realçando a tensão emocional da protagonista.
A união dos génios de Cocteau e Poulenc nesta obra cria uma tapeçaria rica de introspecção e expressão. Ambos, nas suas respectivas vidas e carreiras, lidaram com temas de identidade, desejo e comunicação. A Voz Humana serve, assim, como um espelho das próprias lutas e anseios dos artistas, enquanto oferece simultaneamente uma voz universalmente humana e dolorosamente reconhecível.