
D. JOÃO DE NORONHA, O NOVO
2 de Maio, 2023
ALBERTO PIMENTEL
2 de Maio, 2023PADRE ANTÓNIO JOSÉ DE ALMEIDA
TEXTO
(José Ramalho, actor)
N'isto sentimos passos; voltámos-nos. Era Padre Antonio que chegava, em fato de caçador, com dois cães que o farejavam.
— Que as perdizes já estavam a cosinhar-se, tenras e gordas. Era o melhor almoço que um caçador podia dar. Tinha promettido, confessava, a vacca e o riso de frei Bartholomeu dos Martyres. Da vacca tinha mandado fazer beefs. O riso trazia-o alli, nos labios, e era patriarchal de hospitalidade sincera, como no Oriente... Mas as perdizes quizera-as ir caçar n'aquella manhã o seu amigo caçador Antonio de Almeida, para mandal-as ao Padre, que esperava hospedes para o almoço. Elle não tinha culpa de que o seu amigo caçador, apesar de lhe estar dentro da propria pelle, se lembrasse de lhe fazer um presente de perdizes para o almoço e como Padre Antonio, que fôra quem as recebera, tinha gente de fóra para almoçar, pedia licença para mandal-as pôr na mesa com môlho de villão. E que depois lambessem os beiços... Estava certo d'isso.
in Alberto Pimentel, Chronicas de Viagem
Francisco José de Almeida e Joaquina Luísa de Almeida foram pais de António José de Almeida, o qual nasceu em São Pedro do Sul no ano de 1848.
António frequentou o Seminário de Viseu. Em seguida, foi nomeado adjutor do pároco do Cartaxo. Passados alguns anos, foi nomeado capelão da Irmandade do Santíssimo Sacramento de Caldas da Rainha e, desde 1884, capelão do Real Santuário do Senhor da Pedra em Óbidos. Com os seus rendimentos, sempre amparou os pobres e os necessitados. Viveu os últimos anos da generosidade de Frederico Pinto Basto, tendo falecido em 1928.
Reconhecido pelos dotes de orador, possuía nas palavras de Luís de Freitas Garcia e de Marcelo Caetano uma “notável facilidade de improvisação e rara habilidade para se fazer compreender pelo público aldeão”. Todavia, reconheciam-se nele igualmente dotes de um homem de sociedade, como valsista, cantor, poeta, caçador e gastrónomo. Relacionava-se muito bem com a corte e com as figuras representativas do final da monarquia, sendo amigo íntimo do rei D. Carlos. Recebia os amigos na pensão de Maria Matias, a que Rafael Bordalo Pinheiro apodou “o palácio do Padre António”.




